quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O catador de pedras


    Ele as reúne como quem tenta definir suas próprias qualidades. As escolhe como se fossem únicas em suas afinidades. Ela diz que são exatamente iguais, mas ele teima em dizer que aquelas são melhores do que estas. Se incomoda quando ela oferece ajuda, e a sentencia por não enxergar a mesma diferença que a imensidão de seus olhos vê.

    Ela insiste, procurando absorver a intenção de seu gesto, tentando compreender o motivo da busca. Mas é incapaz de mergulhar na profundidade de seus pensamentos. Não consegue sequer definir a relação entre eles, tudo o que ele sente ela não pode tocar.

    Tem vontade de arrumar as coisas por aquele menino, organizá-las. De seus sapatos até as pedrinhas que pacientemente recolhe, dos seus cabelos aos fios de suas inquietações. Enquanto isso observa cada forma que compõe o seu pequeno pedaço de céu.

    Impossível, para ela, dizer qual estrela é a mais bonita. Pergunta, e ele as aponta sem medo de verruga nos dedos.

    Agora ela entende... ele reúne pedras de estrelas para formar sua própria constelação.


quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Sem cor, sem poesia.


Ele veio aqui
desarrumou meus papéis
bagunçou minhas coisas
me anunciou aos bordéis

disse que não voltaria
que não queria mais sorrir
destruiu a poesia

Ele veio aqui e jogou fora os meus batons
meu mundo não tem mais cor.





terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Batendo portas.

Fechar a porta é renovador.
E não estou falando da forma educada de fechá-la. Isso remete a uma decisão pensada, uma atitude madura. Quem fecha a porta por educação pode ser considerada uma pessoa que é dona de si, que possui autocontrole. Ela fechou a porta por estar certa de que esta era a melhor coisa a ser feita, e fez isso com cautela, e saiu confiante.
Não...
Estou falando de bater a porta. Com força, com ignorância, como uma forma de esconder as lágrimas que estão prestes a pular em cima dele, como navalhas rasgando as feridas ainda não cicatrizadas. Bater a porta como uma adolescente que discorda da imposição paterna. Bater a porta para não ter que ver um sentimento se perder na íris alheia, para não precisar ouvir aquilo que com certeza te resumiria em um esboço mal feito de qualquer coisa.
Bater a porta estrondosamente é substituir o grito de dor que está ardendo na garganta. É não precisar olhar pra trás, é inconsciente, é avassalador, mas é revigorante. Não demonstra em momento algum a sua fortaleza, porém acende uma fagulha de poder. Bater a porta assertivamente é dizer para você mesma que é independente, que não possui medos, que é livre.
Falando a verdade, bater a porta nem é tão eficiente quanto parece, porque ao atravessar a rua você volta a se sentir impotente, volta a se questionar sobre a sua capacidade de lidar com a situação como uma pessoa adulta que você afirma ser. Pensa se não seria melhor ficar e ouvir o que ele tinha a dizer, afinal você sempre esperou que ele o fizesse. Mas não tem coragem, teme por uma desilusão ainda maior, e por isso bate a porta. Tem vontade de voltar e se desculpar, mas não o faz porque não quer perder o brio, porque é orgulhosa. E não volta porque se o fizer estará afirmando todos os defeitos que um dia ele enumerou em você.
Bater a porta é ameaçador. Insinua que você não vai voltar e não está aberta a propostas. Mas só insinua...
Bateu a porta e cortou as ruas desertas e escuras. Quem bom que está chovendo! As lágrimas do céu se misturaram às suas. Você ficou à vontade, e tudo pareceria normal se você não estivesse carregando um coração sangrando em suas mãos.
Parabéns! Você bateu a porta. Mas está esperando até agora o barulho dela batendo novamente atrás de você.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Recomeçar de novo é possível?

Ainda prefiro ter os meus momentos de total arrebatamento.
Às vezes choro com razão, às vezes não.

Mas eu odeio chorar!
Ganho forças de acordo com minha imaginação

Ela me permite ir longe e eu não a impeço
É o reflexo do que eu gostaria de ser
E não tenho forças. 

Me alimento do improvável.



*Depois de uma tentativa fracassada, espero persistir dessa vez.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Lúcia

Ele tinha um caso. Sem meios termos, tinha um caso com uma prostituta. Não uma mulher de vida fácil...
Largava a família em casa para encontrá-la. Não pensava nas explicações que daria à amada esposa. Explicava a si mesmo: - Ela não é como as outras. É uma mulher diferente. É inteligente e sabe das coisas.
Era a justificativa necessária. Além do que tinha um lindo nome. Chamava-se Lúcia. Mas não qualquer Lúcia. Uma vez, confessara para si mesmo que era um pouco fora de moda para um pseudônimo. Resolvera, então, perguntar:
-      Por que "Lúcia"? Tantos para escolher. Logo esse...      
-      Uma personagem de um livro de Sidney Sheldon, sabe?!
(Ficara perplexo diante dela sem saber o que dizer. Sentira uma felicidade imensa que não demonstrava. Ela lera seu livro favorito).    
-         “As areias do tempo”?
-       hu hum...


Sentiu-se incomodado porque havia esquecido de que ela não gostava de perguntas (não as respondia, na maioria das vezes).  Não conseguia entender o que uma mulher como Lúcia, tão inteligente e refinada, fazia num prostíbulo. Vendendo-se  para quem oferecesse mais. E o pior é que sentia que ela gostava. Não poderia lutar contra aquilo.

Todos os dias a velha e inseparável rotina começava. Sua única alegria era Lúcia. De vez em quando pensava nos filhos (duas belas crianças), mas sua consciência pesava realmente quando lembrava de sua mulher, e de como todo o amor que sentia por ela foi sucumbido pela paixão avassaladora que Lúcia o proporcionava.

Um homem distinto, sério e respeitador. Entregou-se a uma mulher que mal conhecia. Não sabia nem seu nome verdadeiro, muito menos sua história de vida e os motivos que a levaram até ali. Trocou a estabilidade pelo desconhecido. Queria viver mais intensamente aquela paixão. Não sabia ele que Lúcia se despediria naquela semana.

-         Não me adapto a lugares pacatos. Cansei daqui. Quero viver na cidade grande.
-         E eu? Como vou ficar sem você?

E ela não respondeu mais uma vez. O silêncio tomou conta do quarto. Um cômodo simples, com um lençol vermelho e amassado jogado em cima da cama. Recolheu suas roupas. Saiu com o terno na mão e o nó da gravata desfeito. No longo percurso para casa, uma lágrima escorria em seu rosto áspero, a barba por fazer.

Continuava sem saber quem era aquela mulher. A cada passo dado, desiludido, ela se tornava mais estranha. Agora, apenas uma lembrança.  


* Esse texto é de 2004, mas achei que seria um bom início.

domingo, 29 de novembro de 2009

Recomeçando.

Tive um blog antes que deu teia de aranha, perdi o acesso, e aqui estou, tentando novamente. Mas sem nenhuma cobrança.

Este é um espaço livre. Sem nenhuma obrigação poética, somente uma forma de falar sobre coisas, pensamentos algumas vezes roubados. E ainda algumas palavras minhas expostas timidamente.
Um jeito de crescer.

Por favor, sinta-se bem por aqui...